O material é doado na Vila Militar do Bonfim. São capas de colete à prova de balas, cintos de guarnição, gândolas, coifas e outras peças
Informações Correio24horas
O dia em que evitou que uma criança fosse atropelada, os trabalhos de resgate nos desabamentos do Motel Mustang, em 1989, e na comunidade do Barro Branco, em 1996, são três episódios que marcaram a carreira do diretor de comunicação da Associação de Praças e Bombeiros Militares Roque César Santos, 53 anos. Nesses momentos, em que serviu à sociedade, ele contou com uma companhia constante: sua farda de policial militar.
Porém, durante os 33 anos na corporação, os uniformes, sempre motivo de orgulho, foram sendo acumulados. E se desfazer deles se tornou um grande problema.
Confeccionar bonecas reaproveitando fardas antigas é parte de tratamento de PMs e bombeiros afastados. Grupo de PFem comanda oficina (Foto: Marina Silva/CORREIO) |
“Não vai virar pano de chão. Também não pode ser doado. E se for deixado em casa, corre o risco de algum marginal roubar para fazer mau uso”, disse o major Honorato Barbosa, do Departamento de Promoção Social (DPS), ilustrando o dilema.
Pensando nisso, cerca de cinco meses atrás, o DPS criou uma oficina que transforma fardas antigas em objetos de artesanato, e o PM Roque encontrou um destino criativo para os trajes pelos quais tem tanto apego.
O material é doado na Vila Militar do Bonfim. São capas de colete à prova de balas, cintos de guarnição, gândolas, coifas e outras peças, que são recebidos e lavados. Os botões são retirados, assim como todos os aviamentos. Daí, tem início o trabalho de transformação dos tecidos em almofadas, bonecas, porta-recados, pesos de porta e outros objetos de decoração.
A ideia partiu da soldado PM Adjaneara Costa e é organizado por ela, pela soldado Edna Santana e pela capitã PM Edilânia Costa. “A ideia de fazer algo com as fardas nasceu da quantidade. Ficava sentida em descartar uniformes de ações tão nobres”, comenta a capitã.
Há 16 anos, ela foi atendida pelo DPS. Na época, um psicólogo sugeriu que ela fizesse algo terapêutico. “Foi aí que resolvi fazer um curso de corte e costura”, conta a soldado Edna. E foi justamente ela quem deu a ideia de trabalhar com artesanato.
Cerca de três mil peças já foram acolhidas pelas oficiais. “A calça do fardamento operacional, por exemplo, é confeccionada em tecido rip stop, que é ótimo para realizar bordados”, comenta a capitã Costa.
Equipe do Departamento de Promoção Social da PM mostra resultado de projeto, iniciado há cinco meses (Foto: Marina Silva/CORREIO) |
O grupo de artesãos é formado por 24 policiais. Desse total, seis são mulheres da Sessão Maria Felipa de Valorização da Mulher na PM. Os outros 18 são homens da corporação afastados das atividades por diversos problemas - parte deles por conta do vício em álcool e drogas.
O PM Roque, que teve problemas com alcoolismo, é um dos frequentadores do grupo. “O policial passa por diversos traumas. Às vezes, para não perder a sua vida, você tem que tirar a de outra pessoa. É uma carga pesadíssima”, ilustra o policial.
Os encontros acontecem todas as quartas, pela manhã, e têm duração de duas horas. Na oficina de artesanato, o PM diz se sentir em família. Ele conversa sobre os problemas com os colegas, enquanto desempenha as atividades de costura e bordado.
Uma exposição das peças confeccionadas está sendo idealizada para acontecer em dezembro. Por enquanto, os artesanatos não são vendidos. Mas, de acordo com o major Honorato, já está em andamento um projeto para ampliar a produção e vender os produtos. “O valor arrecadado seria revertido para um fundo destinado a policiais incapacitados, viúvas e outros auxílios sociais”, adiantou o major.
Porta-retratos, bolsas, almofadas e bonecos também são produzidos (Foto: Marina Silva/CORREIO) |