Ricardo Boa Sorte e Rose Lane, de Lençóis, protagonizam o filme que retrata a cultura de uma cidade fantástica, onde realidade e ficção se misturam para narrar a chegada de Obaluaê
Informações Jornal da Chapada(Foto: Montagem do JC/ Divulgação) |
Os atores Rose Lane e Ricardo Boa Sorte, de Lençóis, protagonizam Baderna, filme gravado na Chapada Diamantina que estreia nesta quinta-feira (16) em São Paulo. Rose faz o papel da bailarina italiana Marietta Baderna, exilada no Brasil durante o século 19, que revolucionou o balé clássico ao abraçar os ritmos populares. Boa Sorte representa Obaluaê, o orixá da cura, que visita a cidade de Baderna para curá-la dos males do século 21.
O filme será exibido pela primeira vez no Teatro de Contêiner, uma ocupação artística no Centro paulistano. Na linha do Cinema Novo, o longa-metragem locado em Lençóis, Vale do Capão e Igatu retrata manifestações culturais da região, misturando realidade e ficção para narrar a chegada de Obaluaê. Além de cidades chapadeiros, o filme também tem uma cena no Arpoador, no Rio de Janeiro, lembrando que a mitologia dos orixás conta que Obaluaê foi curado por Iemanjá. A exibição começa às 20h, seguida de debate com os realizadores (o diretor Bruno Graziano e o jornalista Bruno Cirillo).
“Pra mim foi um grande prazer representar uma revolucionária. Eu já conhecia a história de Marietta Baderna, e na pesquisa do filme passei a admirá-la ainda mais”, conta Rose, atriz de teatro e educadora do projeto Grãos de Luz e Griô, em Lençóis. “Foi minha primeira participação num longa-metragem, uma grande oportunidade de trabalhar no que amo, que é ser atriz, sem sair do meu lugar, da minha história e identidade”, acrescenta ela.
(Foto Divulgação/ Cartaz) |
A personagem de Rose se exilou no Brasil durante a Unificação Italiana, período em que a Itália estava sob a ocupação da Áustria. Com o título de primeira bailarina absoluta, era admirada pela Corte e os intelectuais da época. Apesar do balé clássico ser a dança considerada nobre, Marietta Baderna preferia os ritmos populares, como a cachuca, umbigada e lundum. Com isso, desagradou a aristocracia e tornou-se musa dos negros ainda escravizados pelo Império Português.
Para o ator Ricardo Boa Sorte, educador do Grãos de Luz e Griô, Baderna também foi a primeira experiência com um longa. “Foi um processo bem colaborativo”, ele lembra. “Gostei muito desse processo de gravar, construir o roteiro e a narrativa durante a produção, como uma família.” Obaluaê, o orixá representado por Boa Sorte, é um dos mais importantes do candomblé baiano. Representa o poder de cura que remonta às suas histórias – um guerreiro doente curado por outros orixás. “Interpretá-lo foi um desafio”, diz Ricardo, “estou muito feliz por ter conseguido.”
As filmagens de Baderna aconteceram no início do ano na Chapada Diamantina, Bahia, com abordagens documentais e a participação de atores da região. Capoeira, maracatu e jarê (o candomblé de caboclo da região) são algumas das manifestações culturais presentes no doc-ficção, bancado com recursos próprios. O roteiro, produzido a quatro mãos ao longo da montagem, partiu da memória da bailarina italiana Marietta Baderna (1828-1870), amante dos ritmos afro-brasileiros.
“A história da bailarina foi o ponto de partida para a idealização do filme”, conta o diretor de Baderna, Bruno Graziano. “Por coincidência, é o mesmo nome de uma da ruas centrais da cidade de Lençóis, capital turística da Chapada Diamantina, onde foi feita a maior parte das filmagens. O argumento de Baderna foi maturado ao longo de um ano, com diversas reuniões, dois meses de pré-produção, cinco semanas de filmagem (28 diárias), cinco meses de montagem e um mês de pós-produção. Foram investidos 31 mil reais, sobretudo em logística, cachês e serviços de finalização.
Graziano explica que Baderna integra uma série de filmes que vêm sendo feitos por um grupo de cineastas independentes com a insígnia de Cinema Suado, como Largou as botas e mergulhou no céu (2016), que estreou no Espaço Itaú e teve a presença ilustre do diretor pernambucano Cláudio Assis. “São atos cinematográficos fora da academia, através da oralidade e das vivências reais pelo país, com honestidade e paixão. Usamos cachês da publicidade para fazer cinema independente”, conta o cineasta, dono da produtora Controle Remoto. As informações são de assessoria.
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